Numa das pinturas de Tomás de Modema do século XIV aparece um objeto que se assemelha a uma lorgnette monocular. Rafael, na mesma época (1313), pintou um retrato do papa Leão X no qual aparece uma lupa. Chaucer, em 1340-1400, mencionava os óculos.
Quatorze anos depois de Bacon, o poeta alemão Henrich Frauenlob mostrou a forma em que a escritura se podia ler mediante o uso de óculos, a presumir côncavos. Um antigo manuscrito florentino, descoberto recentemente, relata que as pessoas de idade avançada usavam óculos. Nicolau de Cusa, cortador de lentes do século XV, descreve os fundamentos das lentes côncavas. No ano de 1483, Noremberg fundou o grêmio conhecido com o nome de "Mestres Fabricantes de Óculos".
Um casco que se fabricou para Henrique VIII (1491 - 1574) levava lentes ajustadas às velas. O retrato de um cardeal por El Greco (1596) mostrava cordões que sujeitavam os óculos às orelhas.
Foi em 1604 que a primeira chispa de verdadeiro gênio apareceu no horizonte da óptica! Kepler dedicou-se à óptica e à astronomia. Foi Kepler quem explicou a ação e propriedades da lente oftálmica. Seus estudos astronômicos conduziram-no a formar as primeiras regras corretas para determinar a longitude focal das lentes, Kepler escreveu largamente acerca da óptica e das lentes. Suas idéias e deduções influenciaram mentes de Galileu, Newton, Huygens e Descartes.
O trabalho destes colossos fertilizou os intelectos ativos e jovens de Young, Helmholtz e Donders. Daqui a diante a história da óptica assume suficiente importância em concreto para ser objeto de estudo profundo. Antes desta época, a arte de cortar lentes com relação à óptica pode-se comparar com a era das "extrações" na arte dentária, quando a extração de todo dente mal era o princípio e fim de todo conhecimento dentário.

Na Idade Média existiram as associações e grêmios de fabricantes de óculos. Seus membros compreendiam as únicas pessoas que podiam receitar óculos. Nessa época, o corte de lentes era uma "arte" comparável com a sapataria, barbearia e etc.
Os jovens aprendiam a "arte" de seus pais, que lhe ensinavam a selecionar lentes, corta-las e ajusta-las as armações. Porém, eles nada sabiam de princípios de refração; não tinham que saber, o grêmio não o requeria
Quando uma pessoa desejava usar óculos, visitava o fabricante de óculos e ali procurava uma quantidade de pares até dar com um que se sentisse bem. Se na existência a mão não havia um par que satisfizesse, fabricavam-lhe um par especial que custava o equivalente a 750$000 a 1000$000 (1935). Naturalmente, a estes preços, só os nobres tinham direito a defeitos visuais. E se tratava de homem rico que desejava alargar sua vaidade com o uso deste adorno, resultava no fim ser objeto de ridículo e chiste entre os labregos da aldeia.
Pelo fim do século XVIII efetuou-se algum processo, pois se conseguiu um edito que tirou aos barbeiros o direito de vender e receitar óculos. Para igualar as coisas, proibiu-se aos cirurgiões o direito de cortar o cabelo e, ainda que os barbeiros perdessem o direito de receitar óculos, ficariam com o direito de arrancar molares e extrair sangue.
Apesar de a arte de cortar lentes ter sido seu expoente mais brilhante na Inglaterra, não se encontra traço algum de nenhum fabricante de óculos nessa ilha até 1563. Pouco mais tarde, em 1629, fundou-se com todas as regras, o grêmio de fabricantes de óculos conhecido com o nome de "Worshipful Company of Spectacle Makers" que ainda existe.
No ano de 1581, os fabricantes de juguetes, na França, uniram-se aos fabricantes de óculos. Imediatamente a indústria recebeu um ímpeto tão beneficioso para os comerciantes e fabricantes como prejudicial e oneroso para o público.
O público considerava os óculos como artigos de adorno pessoal e tratava de obter uma aparência distinta mediante o tamanho e o laborado ornamento das armações. Os preços dos óculos baixaram consideravelmente a tal ponto que os vendedores de óculos ambulantes apareciam de casa em casa e nas esquinas. Por outra parte, a gente rica insistiu em desenhos caprichosos e primorosos trabalhos de joalheria nas armações. Um costume que se generalizou muito nessa época foi a de gravar o escudo de seu dono sobre a ponte das armações. Apareceu uma infinidade de engenhosos desenhos expressando virtude, amor, heroísmo, castidade, temperança, etc., no desenho das armações.
Ainda que a indústria progredisse no sentido material, devido a grande procura popular que existia, um sem número de olhos ficaram arruinados para sempre como resultado de tal estado de coisas. Tal era o triste estado da óptica quando apareceram três homens de ciência com um propósito firme.
Young, um inglês, Helmolz, um alemão e o holandês Dounders, merecem ainda maior crédito do que lhes concede entre os ópticos. Foram estes três homens de ciência que deram começo a prática oftalmológica moderna. Enquanto outros se envolveram em debates e querelas científicas, estes três sábios se dedicaram a um sincero esforço para servir a humanidade.
Eles estudaram a lente e sua fabricação com a finalidade de melhorar a visão humana. Desintegraram a luz e analisaram seus componentes. Devido a seus esforços inventaram-se instrumentos oftálmicos, diagnosticaram-se as desordens da vista, desenvolveram-se os princípios de refração, melhorou-se grandemente o processo para cortar lentes, desenvolveram-se as leis da ação visual e deu-se um verdadeiro passo para a ciência óptica moderna.

Traduzido da Revista da Bauch & Lomb, por C.S e editado na Revista Óptica
junho e julho de 1935, nº 5.
Revisão: Professor Noé Marinho da Silva
Autor: do livro Prática em Optometria Preventiva